17 poemas famosos da literatura brasileira (comentados) (2023)

1. Tomara, de Vinicius de Moraes

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

O poetinha Vinicius de Moraes (1913-1980) ficou conhecido principalmente pelos seus versos apaixonados tendo criado grandes poemas da literatura brasileira. Tomara é um desses exemplos de sucesso, onde, através dos versos, o poeta consegue transmitir todo o afeto que guarda dentro dele.

Ao invés de uma declaração de amor clássica, feita quando o casal está unido, lemos no poema o momento de partida, quando o sujeito é deixado para trás. Ao longo dos versos percebemos que ele deseja que a amada se arrependa da sua decisão de ir embora e que volte para os seus braços.

O poema nos lembra também - especialmente na estrofe final - que devemos aproveitar cada instante da nossa vida como se fosse o último.

Tomara chegou a ser musicado e virou um clássico da MPB na voz de Toquinho e Marilia Medalha.

2. Matéria de poesia, de Manoel de Barros

Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesia

O homem que possui um pente
e uma árvore serve para poesia

Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima
Cada coisa sem préstimo tem seu lugar
na poesia ou na geral

Poeta das coisas miúdas que vemos no nosso dia a dia, o mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014) é conhecido pelos seus versos repletos de delicadeza.

Matéria de poesia é um exemplo da sua singeleza. Aqui o sujeito explica para o leitor o que é, afinal, material digno de se fazer poesia. Ao citar alguns exemplos percebemos que a matéria-prima do poeta é basicamente aquilo que não tem valor, o que passa despercebido para a maior parte das pessoas.

Tudo aquilo que as pessoas não levam a sério como material poético (objetos dos mais diversos tipos: pente, lata, carro) se revelam como sendo, afinal, material preciso para se construir um poema.

Manoel de Barros nos ensina que a poesia não é sobre as coisas que estão dentro dela, mas sobre o olhar que depositamos sobre as coisas.

3. Seiscentos e Sessenta e Seis, de Mario Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

(Video) OS 10 POEMAS MAIS IMPORTANTES DA LITERATURA BRASILEIRA

O gaúcho Mario Quintana (1906-1994) tinha a habilidade ímpar de construir com o leitor uma relação de cumplicidade, os seus versos são como se o poeta e quem o lê estivessem a meio de uma conversa descontraída.

Assim é construído Seiscentos e Sessenta e Seis, um poema que parece um conselho de alguém mais velho que escolheu dividir com uma pessoa mais nova um pouco da sua sabedoria de vida.

É como se essa pessoa mais velha olhasse para trás, para a sua própria vida, e quisesse alertar os mais novos a não cometerem os mesmos erros que ela cometeu.

O breve poema Seiscentos e Sessenta e Seis fala sobre a passagem do tempo, sobre a velocidade da vida e sobre como devemos aproveitar cada instante que temos.

4. Homem comum, de Ferreira Gullar

Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons,
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei

Ferreira Gullar (1930-2016) foi um poeta com muitas facetas: escreveu poesias concretas, poesias engajadas, poesias de amor.

Homem comum é uma obra-prima daquelas que nos faz sentir mais conectados com o outro. Os versos começam promovendo uma busca pela identidade, falando de questões materiais e memórias que fizeram o sujeito se tornar aquilo que é.

Logo depois o poeta se aproxima do leitor ao dizer “sou como você”, despertando em nós um sentimento de partilha e de união, lembrando que temos mais semelhanças do que diferenças se pensamos naqueles que nos cercam.

5. Receita de poema, de Antonio Carlos Secchin

Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.
Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E depois que tudo matasse
morresse do próprio veneno.

Antonio Carlos Secchin (1952) é poeta, ensaísta, professor, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos grandes nomes da nossa literatura contemporânea.

Em Receita de poema ficamos conhecendo um pouco do seu estilo literário ímpar. Aqui o poeta nos ensina como se constrói um poema. O próprio título, original, intriga o leitor, uma vez que o termo receita costuma ser usado no universo culinário. A ideia de haver uma única receita para se construir um poema também é uma espécie de provocação.

Apesar do título prometer um tipo de “manual de instrução” para se construir uma poesia, vemos, ao longo dos versos, que o poeta fala de noções subjetivas e usa o espaço do poema para refletir sobre o que seria o seu poema ideal que, afinal, se revela como sendo impossível.

6. Aninha e suas pedras, de Cora Coralina

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina (1889-1985) começou a publicar relativamente tarde, aos 76 anos, e a sua poesia carrega muito o tom de conselho daquele que já viveu muito e que deseja transmitir conhecimento para os mais jovens.

Em Aninha e suas pedras vemos essa vontade de partilhar o aprendizado de uma vida, aconselhando o leitor, trazendo ele para mais perto, para dividir aprendizados existenciais e filosóficos.

O poema nos estimula a trabalharmos naquilo que queremos e a nunca desistirmos, sempre recomeçando quando for preciso tentar outra vez. A resiliência é um aspecto muito presente nas criações de Cora Coralina e se faz presente também em Aninha e suas pedras.

7. Último poema, de Manuel Bandeira

Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Bandeira (1886-1968) é autor de algumas obras-primas da nossa literatura, e Último poema é um desses casos de sucesso concentrado. Em apenas seis versos o poeta fala sobre como gostaria que fosse a sua criação poética final.

Reina aqui um tom de desabafo, como se o poeta escolhesse compartilhar com o leitor o seu último desejo.

Ao chegar ao final da vida, depois da experiência aprendida com o passar dos anos, o sujeito consegue alcançar a consciência daquilo que realmente importa e decide entregar para o leitor o que demorou toda uma vida para conseguir aprender.

(Video) Os 07 poemas mais Lindos da Literatura Brasileira

O último verso, intenso, encerra o poema de uma forma forte, falando sobre a coragem daqueles que escolhem seguir por um caminho que desconhecem.

8. Acalanto, de Paulo Henriques Britto

Noite após noite, exaustos, lado a lado,
digerindo o dia, além das palavras
e aquém do sono, nos simplificamos,

despidos de projetos e passados,
fartos de voz e verticalidade,
contentes de ser só corpos na cama;

e o mais das vezes, antes do mergulho
na morte corriqueira e provisória
de uma dormida, nos satisfazemos

em constatar, com uma ponta de orgulho,
a cotidiana e mínima vitória:
mais uma noite a dois, e um dia a menos.

E cada mundo apaga seus contornos
no aconchego de um outro corpo morno.

O escritor, professor e tradutor Paulo Henriques Britto (1951) é um dos nomes de destaque da poesia contemporânea brasileira.

Acalanto, palavra que dá título ao poema escolhido, é uma espécie de cantiga para embalar o sono e é também sinônimo de carinho, afeto, ambos significados que fazem sentido com o tom intimista do poema.

Os versos de Acalanto abordam uma união amorosa feliz, repleta de companheirismo e de partilha. O casal divide o seu cotidiano, a cama, as obrigações diárias, e se aconchega um no outro, felizes de saberem que têm um parceiro com quem contar. O poema é o reconhecimento dessa união plena.

9. Não discuto, de Leminski

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

O curitibano Paulo Leminski (1944-1989) foi um mestre dos poemas curtos, tendo muitas vezes condensado em poucas palavras reflexões densas e profundas. É o caso do poema não discuto onde, em apenas quatro versos, muito enxugados, o sujeito é capaz de mostrar a sua inteira disponibilidade para a vida.

O poeta apresenta aqui uma postura de aceitação, ele aceita “navegar com a maré”, como se topasse encarar todas as dificuldades que a vida lhe apresenta.

10. Os três mal-amados (1943), de João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade,
meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor
comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.

O escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) escreveu alguns dos mais belos versos de amor no longo poema Os três mal-amados.

Pelo trechinho selecionado podemos perceber o tom do poema, que fala sobre como o amor transformou o seu dia a dia. A paixão, simbolizada aqui como um bicho faminto, vai se alimentando dos objetos que são importantes no cotidiano do sujeito.

O poema, que fala dos efeitos da paixão, é capaz de transmitir com perfeição a sensação que temos quando estamos arrebatados por alguém. O afeto domina a nossa própria identidade, as roupas, os documentos, os objetos de estimação, tudo se transforma em matéria a ser devorada pelo animal amoroso.

Os versos de Os três-mal amados são apaixonantes, não são? Aproveite para conhecer também o artigo João Cabral de Melo Neto: poemas analisados e comentados para conhecer o autor.

11. Rápido e Rasteiro (1997), de Chacal

Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.

(Video) Literatura Brasileira | Resumo para o Enem e os Vestibulares

aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.

Falar de poesia brasileira contemporânea e não citar Chacal (1951) seria uma falha grave. O poeta brasileiro é um dos mais importantes criadores do nosso tempo e tem investido principalmente em poemas curtos, com uma linguagem clara, acessível e que cativa o leitor.

Rápido e Rasteiro é repleto de musicalidade e tem um final inesperado, despertando a surpresa no espectador. O poeminha, maroto, transmite em apenas seis versos uma espécie de filosofia de vida baseada no prazer e na alegria.

Escrito como um diálogo, com uma linguagem simples e rápida, o poema tem uma espécie de pulsão de vida conta com traços de humor conseguindo facilmente criar uma empatia com os leitores.

12. Os ombros suportam o mundo, de Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), considerado o maior poeta brasileiro do século XX, escreveu poemas sobre os mais diversos temas: o amor, a solidão, e a guerra, o seu tempo histórico.

Os ombros suportam o mundo, publicado em 1940, foi escrito na década de 30 (a meio da Segunda Guerra Mundial) e permanece curiosamente até os dias de hoje uma criação atemporal. O poema fala sobre um estado de cansaço, sobre uma vida vazia: sem amigos, sem amores, sem fé.

Os versos nos lembram os aspectos tristes do mundo - a guerra, a injustiça social, a fome. O sujeito retratado no poema, no entanto, resiste, apesar de tudo.

13. Dona doida (1991), de Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Dona doida infelizmente é um poema menos conhecido da escritora mineira Adélia Prado (1935) apesar de ser uma pérola da literatura brasileira e um dos maiores trabalhos da poetisa.

Com maestria, Adélia Prado consegue nos transportar do passado para o presente e do presente para o passado como se os seus versos funcionassem como uma espécie de máquina do tempo.

A mulher, já adulta e casada, depois de ouvir como estímulo sensorial o barulho da chuva lá fora, faz uma viagem ao passado e regressa a uma cena da infância vivida ao lado da mãe. A memória é imperativa e obriga a mulher não nomeada a voltar para a sua memória da infância, ela não tem escolha, apesar desse movimento representar dor porque, ao regressar, não é compreendida pelas pessoas que a cercam - os filhos e o marido.

14. Despedida, de Cecília Meireles

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

Publicado em 1972, Despedida é um dos poemas mais celebrados da carioca Cecília Meireles (1901-1964). Ao longo dos versos vamos conhecendo o desejo do sujeito que é encontrar a solidão.

(Video) Conheça os principais nomes da Literatura Brasileira! Pt.1 📚

A solidão aqui é um processo que é buscado pelo sujeito sendo sobretudo uma forma, um caminho para se autoconhecer. O poema, construído a partir de um diálogo, simula a conversa do sujeito com aqueles que estranham o seu comportamento pouco usual de querer estar absolutamente só.

Individualista (repare como os verbos estão quase todos na primeira pessoa: “deixo”, “quero”, “levo”), o poema fala sobre o caminho de procura pessoal e sobre o desejo de estarmos em paz com nós mesmos.

15. Dez chamamentos ao amigo (Hilda Hilst)

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Se tem uma mulher na literatura brasileira que escreveu os mais intensos poemas de amor essa mulher foi, sem dúvida, Hilda Hilst (1930-2004).

Dez chamamentos ao amigo é um exemplo desse tipo de produção. A série de poemas apaixonados foi publicada em 1974, e é da coletânea que retiramos esse pequeno trecho para ilustrar o seu estilo literário. Na criação vemos a entrega da amada, o seu desejo de ser olhada, notada, percebida pelo outro.

Ela se dirige diretamente aquele que possui o seu coração e se entrega, sem medos, ao olhar do outro, pedindo que ele também corajosamente embarque nessa viagem com toda a dedicação.

16. Saudades, de Casimiro de Abreu

Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessas horas de silêncio,
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.
Então – proscrito e sozinho –
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra.
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
– Saudades – dos meus amores,
– Saudades – da minha terra!

Escrito em 1856 por Casimiro de Abreu (1839-1860), o poema Saudades fala da falta que o poeta sente não só dos seus amores, mas também da sua terra.
Embora o poema mais conhecido do escritor seja Meus oito anos - onde também fala de saudades, só que da infância - em Saudades encontramos versos ricos que celebram não só a vida, o passado, como também os amores e o lugar de origem. Reina aqui uma perspectiva nostálgica.
O poeta da segunda geração romântica escolheu abordar no poema as lembranças pessoais, o passado, e o sentimento de angústia que assola no presente, marcado pelo sofrimento.

17. Contagem regressiva, de Ana Cristina César

(...) Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos

A carioca Ana Cristina César (1952-1983) infelizmente ainda é pouco conhecida pelo grande público, apesar de ter deixado uma obra preciosa. Embora tenha vivido uma vida curta, Ana C., como também ficou conhecida, escreveu versos muito variados e sobre os mais diversos temas.

O trecho acima, retirado do poema mais longo Contagem regressiva (publicado em 1998 no livro Inéditos e dispersos) fala sobre a sobreposição de amores, quando escolhemos nos envolver com uma pessoa para esquecermos outra.

A poetisa deseja, a princípio, organizar a sua vida afetiva, como se fosse possível ter controle total dos afetos e superar aqueles que amou com uma nova relação.

Apesar de empreender esse novo envolvimento com o objetivo claro de deixar o passado para trás, ela acaba descobrindo que o fantasma das relações anteriores permanece a acompanhando mesmo com o novo parceiro.

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  • Os maiores poemas de amor da literatura brasileira
  • Os poemas mais famosos da literatura brasileira
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FAQs

17 poemas famosos da literatura brasileira (comentados)? ›

1. Soneto de Fidelidade (1946), de Vinicius de Moraes. Um dos mais famosos poema de amor da literatura brasileira é o queridinho de muitos apaixonados ao longo de gerações.

Quais os 3 poemas mais famosos da literatura brasileira? ›

Os 9 poemas mais importantes da literatura brasileira
  • 1 - Soneto da Fidelidade, Vinícius de Moraes. ...
  • 2 - No Meio do Caminho, Carlos Drummond de Andrade. ...
  • 3 - Canção do Exílio, Gonçalves Dias. ...
  • 4 - Vou-me embora pra Pasárgada, Manuel Bandeira. ...
  • 5 - Poema Sujo, Ferreira Gullar. ...
  • 7 - Retrato, Cecília Meireles.
Nov 8, 2020

Qual o poema brasileiro mais famoso? ›

1. Soneto de Fidelidade (1946), de Vinicius de Moraes. Um dos mais famosos poema de amor da literatura brasileira é o queridinho de muitos apaixonados ao longo de gerações.

Qual o poema mais lido? ›

O poema mais lido do mundo chama-se "Stuffen" e foi escrito pelo autor alemão Hermann Hesse.

Qual o poema mais famoso da língua portuguesa? ›

Camões - Poesia épica: Os lusíadas, o maior poema épico da língua portuguesa.

Qual é o maior poema do Brasil? ›

Recorde pertence a Leandro Campos Alves, que escreveu 'O Viajante' com 2.022 estrofes e 10.875 versos. O mineiro Leandro Campos Alves entra para o RankBrasil em 2018 por ter escrito o Maior poema do Brasil.

Qual é o poema mais bonito do mundo? ›

Confira agora, a nossa seleção de poesias:
  1. Amizade Inseparável, de Vinicius de Moraes. ...
  2. A Dor, de Augusto Branco. ...
  3. Há Homens e Homens, de Bertold Brecht. ...
  4. O Amor, de Fernando Pessoa. ...
  5. Sou o Que Sou e Como Sou, de Clarice Lispector. ...
  6. A Macieira, de Machado de Assis. ...
  7. A Obra Mais Linda do Mundo, de Charles Chaplin.

Qual foi o melhor poeta do Brasil? ›

1. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) Poeta modernista mineiro, Drummond é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

Quem foi a maior poetisa brasileira? ›

Poetisa, jornalista, pintora, musicista e professora. Não o bastante, ainda é considerada a maior poeta de todos os tempos, do Brasil. É claro que você já sabe que estamos falando de Cecília Benevides de Carvalho Meireles, não é mesmo?

Qual o melhor poema de amor? ›

Os 10 melhores poemas de amor
  • Amor é fogo que arde sem se ver. (Luís Vaz de Camões) ...
  • Cantiga para não morrer. (Ferreira Gullar) ...
  • Casamento. (Adélia Prado) ...
  • Soneto LXVI. (Pablo Neruda) ...
  • Amar e ser amado. (Castro Alves) ...
  • Adultos. (Vladímir Maiakóvski) ...
  • Soneto da fidelidade. (Vinicius de Moraes) ...
  • Eu te amo. (Chico Buarque de Hollanda)
Jun 12, 2017

Quem é o maior poeta vivo do Brasil? ›

Carlos Assumpção nasceu em 1927 em Tietê (SP) e radicou-se em Franca, adotando a cidade como ponto de resistência e produção para sua vasta obra literária. Entendedor da força da palavra, o poeta é um ícone na obra de resistência negra no Brasil.

Quem é o maior poeta português? ›

Luís Vaz de Camões é considerado o maior poeta da língua portuguesa.

Qual é o menor poema do mundo? ›

No site “o menor poema do mundo” (worldsshortestpoem.com), podemos encontrar um texto que é identificado como o menor poema documentado na história. O título é “Lines on the Antiquity of Microbes” (a tradução livre pode ser algo como “Linhas na Antiguidade dos Micróbios”) e não há um consenso sobre sua autoria.

Qual é o poema mais curto do mundo? ›

mundo. sílabas dispostas em três linhas de 5, 7 e 5 sílabas. sobre a beleza encontrada na natureza 📃🌱.

Quais os maiores clássicos da literatura brasileira? ›

Quais são os 5 principais clássicos da literatura brasileira?
  1. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Escrito por Machado de Assis, em 1881, esse livro marca uma transição no trabalho do autor — que passa do romantismo para o estilo realista. ...
  2. Grande Sertão: Veredas. ...
  3. Morte e Vida Severina. ...
  4. Dom Casmurro. ...
  5. O Cortiço.
Aug 20, 2021

Qual foi o primeiro poema brasileiro? ›

O primeiro poema da literatura do Brasil é Prosopopeia, de Bento Teixeira, publicado em 1601 e que conta em estilo épico, inspirado em Camões, as façanhas da família Albuquerque, tendo sido dedicado ao então governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho.

Qual é a diferença entre a poesia e o poema? ›

Poema é um texto literário composto de versos, estrofes e, por vezes, rima. Já a poesia é uma manifestação artística que pode ou não estar baseada em palavras como o poema. Assim, a poesia é um conceito mais amplo que pode envolver pinturas, esculturas, literatura, etc.

Qual é o menor poema brasileiro? ›

É aquela que Oswald de Andrade publicou no fim dos anos 20, com o título “Amor” seguido por uma palavra-poema, “Humor”. Humor.” Há poemas curtos de todo tipo, muitos dos quais tratam do mesmo tema de Oswald.

Qual foi o poema mais famoso de Fernando Pessoa? ›

O poema mais famoso de Fernando Pessoa é, sem sombra de dúvidas, TABACARIA.

Qual é o poema de amor? ›

“Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.” “Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.”

Qual é o poema do amor? ›

Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

Qual é o poema mais antigo do mundo? ›

O título de primeiro poema do mundo está a ser discutido. Há fontes que dizem que a "Epopeia de Gilgamesh" é o texto literário mais antigo. Este poema épico da antiga Mesopotâmia, composto em doze cantos com cerca de 300 versos cada um, e datado de cerca de 2100 a.

Qual é o poema mais longo do mundo? ›

Um escritor francês de 30 anos, Patrick Huet, anunciou nesta sexta-feira ter criado o poema mais extenso do mundo, com 994,10 metros. Intitulado "Parcelas de Esperança no Eco deste Mundo", o poema foi levado para exposição com a ajuda de um trator. Sua extensão foi medida ao longo de uma pista.

Quanto ganha um poeta no Brasil? ›

Hoje ganha entre 2 000 e 5 000 reais por mês com a participação em workshops e palestras sobre o assunto. A repercussão de suas atividades chamou a atenção da editora Bertrand Brasil, que o convidou a publicar um compilado das obras.

Quem é a escritora mais famosa do Brasil? ›

Nascida em 1923, a paulistana Lygia Fagundes Telles é considerada a dama da literatura brasileira e a maior escritora brasileira viva.

Quem foi a primeira poetisa do mundo? ›

Enreduana era o nome dela. Sacerdotisa, poeta, filósofa, considerada a primeira escritora do mundo. Nasceu em 2.300 a.C, na Mesopotâmia. Foi expulsa de seu próprio reino pelo irmão, e era apaixonada pela deusa Inanna.

Qual poema mais famoso de Pablo Neruda? ›

Canto geral” é uma de suas obras mais famosas. Pablo Neruda, em 1963. Pablo Neruda (Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto) nasceu em 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile.

Como dizer eu te amo em poesia? ›

O jeito como eu sinto por você nunca vai mudar. É claro que eu te amo - e não há nada que você possa fazer pra mudar isso! Eu te amo para amar-te e não para ser amado, pois nada me dá tanta felicidade como te ver feliz. Eu te amo, não só agora mas sempre, e sonho com o dia em que você vai me abraçar novamente.

Qual o soneto mais bonito? ›

O “Soneto de Arvers” foi escrito em 1831 e publicado em 1833 e traduzido milhares de vezes para os mais diversos idiomas, inclusive para o Esperanto.

Quais foram os poetas brasileiros que marcaram a história? ›

25 poetas brasileiros fundamentais
  1. Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) ...
  2. Cora Coralina (1889 – 1985) ...
  3. Vinicius de Moraes (1913 – 1980) ...
  4. Adélia Prado (1935) ...
  5. João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999) ...
  6. Cecília Meireles (1901 – 1964) ...
  7. Manoel de Barros (1916 – 2014) ...
  8. Manuel Bandeira (1886 – 1968)
Mar 24, 2022

Quem foi o maior poeta do século de ouro? ›

O teatro e a poesia do Século de Ouro também elevaram à língua espanhola ao patamar internacional. Os principais representantes dessas áreas foram Luís de Góngora, Calderón de la Barca e Lope de Vega.

Qual poeta escreveu para viver um grande amor? ›

Para viver um grande amor - Vinicius de Moraes - Grupo Companhia das Letras.

Quem é considerado o pai da literatura portuguesa? ›

Camões, o pai da literatura portuguesa.

Quem é o herói da obra Os Lusíadas? ›

Assim, no prólogo, o narrador apresenta o herói da epopeia, ou seja, Vasco da Gama (1469-1524):

Como se chama a pessoa que escreve poemas? ›

A gramática normativa registra a palavra poetisa para referir-se às escritoras do gênero poético, contudo podemos utilizar duas variações, poeta ou poetisa.

Qual é o nome do poema que não tem rima? ›

Versos brancos: quando o poema não possui rimas.

O que é 1 poema? ›

A palavra “poema” vem do verbo grego “poiéo”, que quer dizer “fazer, criar ou compor”. Dessa forma, o poema é definido como um gênero textual e literário que tem como finalidade expressar sentimentos, emoções e pensamentos de quem escreve. A estrutura básica de um poema contém versos, estrofes, rimas e ritmo.

O que significa a palavra haiku? ›

Haiku ou haikai, é um género de poesia tradicional japonesa formalmente caracterizado por um poema de 17 sílabas, dividido em três frases de 5, 7 e 5 sílabas (morae). A forma tradicional justapõe duas imagens contrastantes, uma simbolizando o tempo e outra sugerindo uma observação ou uma revelação.

Quanto estrofe tem um poema? ›

Classificação da estrofe
Número de VersosEstrofe
1Monóstico
2Dístico ou Parelha
3Terceto ou Trístico
4Quarteto ou Quadra
6 more rows

Qual é a maior obra literária do mundo? ›

Odisseia foi a obra mais citada pelos especialistas e aparece como primeira do ranking. Outros autores, como Shakespeare, Virginia Woolf e Franz Kafka, são citados mais de uma vez na lista.

Quem é o maior poeta romântico do Brasil? ›

Gonçalves Dias é tido como o primeiro poeta autêntico do movimento romântico no Brasil. Tendo influenciado outros grandes nomes da literatura nacional, desde Álvares de Azevedo a Manuel Bandeira, passando por Machado de Assis e Olavo Bilac, o autor de “Canção do exílio” é o patrono da cadeira n.

Qual é o maior nome da literatura brasileira? ›

Há 178 anos atrás, nasceu Machado de Assis, o maior nome da literatura brasileira. Vamos entender porque ele merece este título? Joaquim Maria Machado de Assis nasceu dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro.

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Last Updated: 21/05/2023

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